Inflamassoma e Sistema Nervoso Central

No post anterior, contamos para vocês um pouco do papel dos inflamassomas no controle do T. cruzi e sua infecção no Sistema Nervoso Central (SNC). Hoje, contaremos um pouco mais sobre como os inflamassomas agem no nosso cérebro!
Como já aprendemos, inflamassomas são complexos proteicos importantíssimos para a imunidade inata e vem sendo estudados principalmente em células da linhagem mielóide. Portanto, a maior parte da literatura atual dos inflamassomas relacionada ao SNC refere-se a estudos sobre micróglia, a principal célula imune inata deste compartimento. O inflamassoma NLRP3 foi um dos primeiros da classe a ser estudado no SNC, sendo investigado em doenças como Alzheimer, Parkinson e também na infecção por vírus, como em reposta ao Zika, por exemplo.
Embora a sinalização do inflamassoma no SNC seja estudada principalmente à microglia, a ativação do inflamassoma também já foi observada em outras células residentes do SNC, como os oligodendrócitos, neurônios e astrócitos em diversos modelos. Os astrócitos são as células gliais encontradas em maior quantidade no SNC e desempenham funções vitais para sua fisiologia, como a formação e manutenção da barreira hematoencefálica (BHE) e suporte físico e metabólico aos neurônios. Os astrócitos são capazes de responder a lesões traumáticas, tumores e doenças infecciosas. O que se sabe é que o inflamassoma está presente e pode ser ativado mediante a diversos estímulos nestas células, podendo desencadear a piroptose, levando a liberação das citocinas IL-1β e IL-18. Essas citocinas têm funções importantes no SNC, e suas sinalizações inflamatórias podem contribuir para lesão neuronal. Portanto, níveis aumentados de IL-1β e IL-18 são frequentemente observados após infecção do SNC, lesão cerebral e doenças neurodegenerativas.
No caso de infecções virais e bacterianas, a ativação dos inflamassomas pode causar danos irreversíveis às células do SNC. Em doenças neurodegenerativas, a ativação do inflamassoma com indução de piroptose, liberação de IL-1β e IL-18, assim como outros mediadores inflamatórios, contribui para a neuroinflamação, perda neuronal e progressão do quadro da doença em questão. Ainda, estudos recentes apontam o envolvimento dos inflamassomas em Transtornos Neuropsiquiátricos, mas o mecanismo pelo qual isso ocorre ainda necessita mais investigações.
Portanto é necessária uma maior compreensão do equilíbrio entre a ativação benéfica ou prejudicial dos inflamassomas no SNC, considerando que a atividade deste complexo é crítica para a resposta do hospedeiro a agentes patogênicos. Ao estudarmos a ação dos inflamassomas no SNC podemos criar caminhos essenciais para o desenvolvimento de terapias para doenças neuroinflamatórias e neurodegenerativas.
Referências:
McKenzie BA, Dixit VM, Power C. Fiery Cell Death: Pyroptosis in the Central Nervous System. Trends Neurosci. 2020 Jan;43(1):55-73. doi: 10.1016/j.tins.2019.11.005. Epub 2019 Dec 13.
Voet S, Srinivasan S, Lamkanfi M, van Loo G. Inflammasomes in neuroinflammatory and neurodegenerative diseases. EMBO Mol Med. 2019;11(6):e10248. doi:10.15252/emmm.201810248